quarta-feira, 25 de março de 2009

Uma breve introdução ao tráfico de drogas



As favelas brasileiras tiveram seu início em processos históricos que levaram grandes contingentes de pessoas a uma situação de poucos recursos financeiros. Pode-se citar o fim do período escravagista, que fez com que os ex-escravos saíssem dos seus antigos “trabalhos” para buscar novas oportunidades na cidade, a fim de conseguir um melhor padrão de vida. Entretanto, os negros libertos ainda não tinham moradias e acesso às terras, forçando-os a se mover para regiões desvalorizadas e com nenhuma infra-estrutura habitacional, pois, em geral, não desejavam voltar a realizar trabalhos para seus antigos “donos”. Essa corrida aos “morros” foi intensificada em função de políticas sociais que não foram implementadas na época e que geraram, com o tempo, uma agravação da má distribuição de renda entre as diversas classes da economia brasileira.

As falhas deixadas pelo governo no sistema social, como a falta de assistência às classes mais pobres, aliadas ao surgimento de um comércio ilegal de drogas criou um ambiente propício a instauração de um regime de governo paralelo nas favelas. Alguns moradores dessas comunidades viram na comercialização de drogas uma oportunidade para aumentar seu padrão de vida, pois havia uma demanda por parte de um setor da população por tóxicos e, com a entrada de novos produtos ilegais no Brasil, a renda obtida com esse comércio seria muito superior a que se poderia com o trabalho honesto.

Percebe-se que há um valor influenciando fortemente as decisões de um agente econômico, o consumismo imposto pelo modo de vida capitalista. A fim de se obter um padrão de vida que dificilmente se conseguiria com o trabalho honesto, em função das causalidades históricas e sociológicas que levaram a esse ambiente em que há uma grande disparidade econômica entre as diferentes classes, o cidadão utiliza meios ilícitos para conseguir comprar um tênis da Nike ou uma camiseta da Toulon.

Criou-se um ambiente que é auto-sustentado por diversas falhas no sistema econômico que não estão sendo corrigidas pela ação do governo, pois os investimentos em educação e na criação de novos empregos não suprem e isolam os habitantes do tráfico de drogas. Em um local em que se dá pouco valor a vida, devido à exposição à violência e a perspectiva de que não é possível evoluir economicamente, as ofertas feitas pelos traficantes aos moradores é tentadora, pois o montante que o tráfico pode pagar é muito maior do que um trabalho honesto paga. Além disso, esses criminosos representam para a comunidade um símbolo de transformação, pois são cidadãos na mesma situação de qualquer outro favelado, mas que conseguiram alterar seu padrão de vida.

Os cidadãos que consomem drogas não desejam parar de utilizá-las, mas também não querem que haja violência em seus bairros. Dessa maneira a polícia é colocada em uma situação controversa, porque não pode fazer seu trabalho de maneira completa e eficiente, pois tem que proteger os consumidores de drogas e têm que manter os traficantes longe da cidade.

Essa é a situação que se encontra na maioria das favelas do Brasil, uma situação controversa gerada pela compra de drogas por parte dos habitantes de fora das favelas que sustenta o confronto entre traficantes e policiais, e faz com que o papel social do governo nessas áreas seja substituído pela ação do criminoso.


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