terça-feira, 19 de maio de 2009
Cotas raciais - Origens
A discussão sobre a implementação de cotas raciais para universidades públicas envolve não só o futuro dos vestibulandos, mas também o passado da população brasileira, pois houve um processo histórico e sociológico que culminou na polêmica do projeto de lei que aprovaria essa medida.
Esse decorrer histórico tem origem na formação do próprio povo brasileiro, através da junção de três matrizes: lusa, tupi e afro – segundo Darcy Ribeiro*¹. Toda essa “ninguendade” formou um novo povo com uma nova cultura fundida que se estabeleceu através do decorrer da colonização. Criou-se uma nação na qual havia dois impulsos dominantes – segundo Paulo Prado*² - a busca pelo ouro e a sensualidade livre e sem freios. Dessa maneira, ao longo do período escravagista, houve a criação de famílias estendidas sob a figura de um patriarca nos engenhos, tanto pelo uso da força na relação do senhor com o escravo, quanto através da aproximação sexual entre o negro e o branco – como cita Gilberto Freire*³: “(...) da escassez das mulheres brancas resulta a possibilidade de confraternização entre vencedores e vencidos, gerando-se filhos do senhor com a escrava (...)”.
Entretanto, apesar de toda essa miscigenação cultural, quando a lei áurea foi aprovada, os ex-escravos sofreram dois processos: a fuga do campo em busca de novas oportunidades na cidade e a repulsa da aristocracia em contratar os negros. Encontra-se aí uma das principais causas da segregação dessa população, pois os recém libertos não possuíam moradias e nem acesso às terras, forçando-os a se mover para regiões geralmente inabitadas e com nenhuma infra-estrutura habitacional. Essa corrida aos “morros” foi intensificada em função de políticas sociais que não foram implementadas na época e de leis vigentes no período, como a lei de terras, que agravaram a situação sócio-econômica da população negra, em geral.
Todos esses acontecimentos e a manutenção de instituições fracas ao longo dos séculos comprometeram o desenvolvimento da população segregada, pois apesar do crescimento econômico de um país estar fortemente atrelado à força de suas instituições, segundo Douglas North*¹’, os custos para que haja a transição de uma sociedade em que as riquezas estejam concentradas para uma mais igualitária são elevados.
Desse modo, percebe-se o âmbito em que se encontra a discussão das cotas raciais, à luz dos processos históricos e sociológicos e da atual situação do país criou-se o projeto de lei que destina 50% das vagas de universidades federais a cidadãos que cursaram o ensino médio em escolas públicas, segundo um critério de divisão baseado nas principais etnias regionais. Pode-se entender essa atitude como um custo de transformação que visa evoluir a sociedade, lembrando a teoria institucional de Douglas North.
A discussão do quão essa lei é justa deve remeter ao processo histórico e sociológico, envolvendo elementos da formação do ambiente sócio-econômico do século XXI, sempre lembrando dos aspectos institucionais e das conseqüências das alterações no projeto.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Uma análise sociológica da crise econômica do século XXI

Vive-se no fim do ano de 2008 e no ano de 2009 um evento internacional, uma crise econômica de âmbito global, que teve influências desastrosas no PIB das principais economias, diminuindo drasticamente a quantidade de comércio e consumo no mundo. Entretanto, o Brasil, país em desenvolvimento, não sofreu tanto quanto outras nações já desenvolvidas, segundo projeção do Banco Central do Brasil, que prevê crescimento de 2% do produto ao longo do ano. Pode-se então analisar a situação econômica do país da América latina através de ferramentas sociológicas.
terça-feira, 31 de março de 2009
Pensamentos sobre a informação

A transmissão de conhecimento é intrínseca à evolução da humanidade em diversos aspectos, do ambiente prático ao científico. Desde o surgimento da humanidade, os meios como as informações são transmitidas entre os seres humanos evoluiu em forma, em quantidade e em velocidade, principalmente. Pode-se perceber essa transformação analisando os métodos utilizados através da história, como os gestos, as escrituras em pedras, as grafias em papel, o jornal, o telégrafo, o rádio, a televisão e a internet.
Nos primórdios desse desenvolvimento, poucas pessoas eram suficientemente instruídas ao nível de poderem ler e produzir textos com conteúdos significantes, dado que esses ensinamentos eram geralmente transmitidos em instituições religiosas (vide a idade medieval), pois havia uma grande concentração de intelectuais e o ingresso nesses locais era permitido apenas aos aristocratas. Dessa maneira, criou-se um isolamento do conhecimento escrito e, como esses manuscritos eram produzidos por entidades religiosas, vistas pelo povo como máximas da verdade, houve também a crença de que tudo que era escrito era fundamentalmente uma verdade.
Esse tipo ideal foi gerado a partir desse decorrer histórico e também por causalidades sociológicas, as quais não permitiram um desenvolvimento homogêneo da educação e da capacidade de compreensão dos meios de comunicação. Esse processo levou a uma grande influência das teorias religiosas sobre a população em geral, caracterizando toda a Idade Média.
Apesar da evolução dos meios de comunicação ter possibilitado uma maior transmissão de informação entre as pessoas e uma retenção de conhecimento para as gerações futuras, o tipo ideal do homem se manteve ao longo dos séculos. O evento principal é: uma pessoa ao ler um texto informativo em qualquer tipo de fonte, pensa que o autor, ao escrevê-lo, não omitiu ou adulterou alguma informação para convencer ou adulterar a opinião do leitor, pois há uma causalidade histórica que faz com que o homem tenda a pensar que qualquer escritor é nutrido de informações verdadeiras e possui uma base teórica consolidada para a escrita de textos.
Desse modo, cria-se uma grande nuvem de poluição comunicativa que é agravada pela popularização dos sistemas de transmissão de informação, como a internet e a televisão, que pode trazer ao leitor despreparado, uma bagagem de conhecimento que para o senso comum está correta, entretanto para o estudante analítico pode conter erros.
Há um movimento de retrocesso nos novos meios de comunicação que agregariam valor à humanidade, mas que são inibidos por um longo processo histórico e por uma política de investimento na educação que se mostrou falha. Então, criou-se um ambiente em que há abundância de informação, todavia nem toda ela é relevante e, portanto, os cidadãos menos instruídos estarão expostos a uma grande assimetria de informações.